sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A população em movimento 4º bimestre - aula nº 3

Aula nº 3 – 4º bimestre 2014
A população em movimento

Toda migração, ou deslocamento humano, relaciona-se às injustas desigualdades sócio espaciais entre territórios desenvolvidos e subdesenvolvidos, que acabam por originar as chamadas células de atração e repulsão populacional. As motivações de saída, muitas vezes, são as conhecidas necessidades de um dado grupo, como a busca por emprego, qualificação, melhor qualidade de vida, dentre outros. Há também motivações por distúrbios sociais ou causas naturais, como guerras, perseguições religiosas, epidemias, fome, furacões, terremotos ou tsunamis.

Nesse contexto, podemos classificar as migrações em função de três critérios: o espaço de deslocamento; o tempo de permanência do migrante; o contexto no qual a migração foi motivada.

Quando consideramos o espaço de deslocamento, temos:

Migração internacional

Ocorre quando há deslocamentos de um país para outro. O período situado entre os séculos XVIII e o início do século XX, no contexto de eclosão da primeira e segunda revolução industrial, foi marcado por importantes movimentos migratórios, principalmente, de saída de europeus rumo a diferentes partes do mundo, como consequência das más condições de vida e do excedente demográfico existentes nesse continente. Nesse período, iniciou-se a independência dos países americanos e o neocolonialismo imperialista em direção à África, Ásia e Oceania – eventos esses que potencializaram a migração europeia.

Da segunda metade do século XX para cá, percebemos uma inversão da condição anterior e acrescentamos algumas novas questões. Hoje, são os países centrais e/ou desenvolvidos com baixas taxas de natalidade e melhor estrutura econômica os principais polos de atração migratória, como os países da União Europeia.

A exceção vale para os Estados Unidos e o Japão. O primeiro sempre atraiu migrantes. Mesmo derrotado no pós-2ª Guerra Mundial (1945), o segundo passou por um surpreendente e elogiável crescimento econômico durante boa parte do século XX, tornando-se uma zona de atração migratória e um país central e desenvolvido, de fato. Austrália, Nova Zelândia e os países do Golfo Pérsico estáveis e ricos em petróleo apresentam também expressivas correntes migratórias. Brasil e África do Sul, mesmo na condição de países em desenvolvimento, são potências regionais que exercem atração no entorno de suas regiões.

Já as zonas de repulsão da atualidade predominam em países periféricos e semiperiféricos com situação econômica pouco diversificada e/ou com altas taxas de natalidade, tal como ocorre em muitos países da América Latina, África, Ásia e Oceania.

Tendo como alvo os países centrais e/ou desenvolvidos, levas e levas de pessoas se aventuram na busca por melhores condições de vida. Essa situação resulta em algumas consequências nos países centrais, como: o acirramento da competição entre a mão de obra nacional e dos imigrantes; mudanças na legislação sobre imigrantes; incidência de movimentos políticos de caráter racista e xenófobo. Então, cientes dessas condições adversas, muitos imigrantes mantém-se segregados e organizados em bairros onde há maior concentração de indivíduos com a mesma nacionalidade.

No entanto, um tipo de migração internacional irrestrita para os países centrais é a chamada “Brain Drain”, “migração de cérebros”, que consiste na atração de mão de obra qualificada para empresas de alta tecnologia. Nesse caso, ganha o país receptor por ampliar sua propriedade intelectual e registrar novas patentes. Perde a nação repulsora, pois mantém-se carente de mão de obra qualificada e dependente de tecnologias muitas das vezes compradas por empresas que possuem o direito de uso de uma tecnologia criada por um possível cidadão que migrou.

Migração interna

Ocorre dentro de um mesmo país, entre suas regiões (inter-regional) ou dentro das mesmas (intrarregional). Os principais tipos de migrações internas são os seguintes:

Êxodo rural ou migração rural-urbana - fenômeno migratório que consiste no deslocamento de populações rurais em direção às cidades. Isso é motivado pelas péssimas condições de vida, concentração fundiária, pela mecanização do setor agropecuário e a consequente liberação de mão de obra no meio rural.

Migração rural-rural - quando populações rurais são destituídas de seus meios de sobrevivência e passam a migrar em direção a novas fronteiras agrícolas.

Migração urbano-rural - quando há transferência de populações urbanas para o espaço rural. O stress da vida urbana em grandes cidades pode favorecer a migração de pessoas para o meio rural, fenômeno chamado contra urbanização.

Nesse tipo, incluímos também a migração de retorno de trabalhadores hoje urbanos em direção às suas regiões de origem.

Migração urbano-urbano - deslocamento que consiste na transferência de populações de uma cidade para outra. Esse é um fenômeno muito comum nos dias atuais. Um exemplo disso é o crescimento econômico de cidades médias, que passaram a atrair populações também dos grandes centros urbanos.

Migração pendular - tipo de migração característica de grandes cidades e regiões metropolitanas, nas quais centenas ou milhares de trabalhadores saem todas as manhãs de suas casas (em determinada cidade) em direção ao trabalho (que pode estar localizado em outro município), retornando ao final do dia.

Quanto ao tempo de permanência do migrante, podemos citar dois tipos:

Migração definitiva - situação na qual o migrante passa a se fixar definitivamente na região de interesse. Exemplo: a chegada de europeus nas regiões Sul e Sudeste do Brasil no século XIX.

Migração temporária - situação na qual o migrante se estabelece temporariamente em uma dada região, podendo voltar para o local de origem ou se deslocar para outra região com nova oferta de trabalho temporário. Exemplo: trabalhadores ligados à colheita de cana-de-açúcar e laranja no interior do estado de São Paulo.

Outro exemplo que merece uma nota é o deslocamento sazonal de pastores e rebanhos para locais que oferecem melhores condições durante uma parte do ano, fenômeno conhecido como transumância.

Quanto ao contexto ou forma em que a migração foi motivada, destacam-se dois grupos:

Migração espontânea - quando indivíduos migram espontaneamente para outra região, seja por motivo econômico, político ou cultural. Exemplo: a ida de brasileiros para o Paraguai em busca de terras baratas para o plantio de soja em moldes agroindustriais, os chamados brasiguaios.

Migração forçada - quando indivíduos são obrigados a migrar de seu lugar de origem em função de catástrofes naturais ou perseguições políticas, raciais ou religiosas. Exemplo: os refugiados de guerra sírios distribuídos nos territórios da Turquia e Jordânia.

Fonte: Currículo mínimo (Seeduc)


O crescimento populacional e a estrutura etária 4º bimestre - aula nº 2

Aula nº 2 – 4º bimestre 2014
O crescimento populacional e a estrutura etária

Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que a população mundial continua e continuará crescendo (embora em menor ritmo a partir das próximas décadas) a taxas relativamente elevadas até por volta de 2025. Somente em 2050 é que a taxa de crescimento populacional da população mundial irá estabilizar. Esse fato decorre daquilo que se convém chamar de transição demográfica, período no qual o crescimento de uma dada população passa por três fases fundamentais.

Grande parte dos países subdesenvolvidos se encontra na primeira ou segunda fase, enquanto que os países ditos desenvolvidos já completaram a transição demográfica e estão, em sua grande maioria, na terceira fase. Abaixo detalhes de cada uma dessas fases.

Pré-transição – com elevadas taxas de natalidade e mortalidade, originando baixo crescimento vegetativo. De acordo com a história e realidade vivida por cada país ou região, isso se explica pela ocorrência de conflitos, condições precárias de trabalho, alto índice de população rural, descontrole de epidemias.

Primeira fase – com elevadas taxas de natalidade e maior redução das taxas de mortalidade, acaba por resultar em um elevado crescimento vegetativo. Esse é um período chamado “Baby Boom”, quando há sensíveis melhorias na assistência médico-hospitalar e, consequentemente, a taxa de mortalidade infantil decresce mais rápido que a taxa de natalidade.

Segunda Fase – há sensível decréscimo da taxa de natalidade e redução mais gradativa e próxima da estabilização da taxa de mortalidade. Esse período tem relação com a crescente participação feminina no mercado de trabalho, a difusão de métodos contraceptivos e o maior grau de urbanização das sociedades, que se traduz pelo aumento do custo de vida.

Terceira Fase – com baixas taxas de natalidade e de mortalidade, resulta em um baixíssimo crescimento e até mesmo na estagnação do crescimento vegetativo.
Essa seria a realidade de alguns países desenvolvidos, cuja população se tornou predominantemente adulta e idosa, com taxa de fecundidade inferior a dois filhos por mulher.

A estrutura etária da população mundial

E se pudéssemos dividir a população por faixas de idade? A análise da estrutura etária de uma população, ou seja, a distribuição de uma população por intervalos de idade – crianças, jovens, adultos e idosos – permite a compreensão do ritmo do crescimento vegetativo, que resulta da diferença entre as taxas de natalidade e mortalidade – aqueles que nasceram ou falecerem em determinado período.

A melhor maneira de analisar a estrutura etária de uma população é a partir da interpretação de um gráfico chamado pirâmide etária, o qual mostra o percentual populacional de faixas etárias de quatro ou cinco anos por gênero e em relação ao número total de habitantes de um país, estado ou município.

Quanto mais largas as faixas mais próximas à base do gráfico, maior a participação percentual de crianças no total da população. Podemos também dizer que quanto maior a participação percentual de faixas próximas ao topo do gráfico, maior a expectativa de vida da população de um dado território.

A pirâmide etária do Haiti é bem característica da realidade dos países subdesenvolvidos. Possui base larga, em função da alta natalidade, e um estreitamento nas faixas etárias mais elevadas, em razão da baixa expectativa de vida, resultante de condições médico-sanitárias e nutricionais inóspitas. Nesse cenário, podemos dizer que a população desse grupo de países é predominantemente jovem.

Isso representa maiores gastos com a educação básica e a necessidade de gerar postos de trabalho.

A segunda pirâmide, da Noruega, exemplifica o grupo dos chamados países desenvolvidos. Possui base estreita, indicando baixa natalidade e elevado número de adultos e idosos, o que indica uma alta expectativa de vida decorrente das boas condições dos serviços sociais essenciais.

Ainda observando a segunda pirâmide, as maiores proporções estão no meio, cuja posição representa um maior percentual da População Economicamente Ativa (PEA). Predomina, nesse grupo de países, populações essencialmente adultas. O topo do gráfico apresenta faixas de idade mais largas se comparadas à outra pirâmide, o que denota uma maior expectativa de vida e um maior número de idosos. É importante lembrar que não existem apenas essas duas realidades. Há também cenários intermediários, como é o caso do Brasil.

Países com elevada população idosa e reduzido número de jovens tendem a ter escassez de mão de obra e gastos excessivos com o sistema previdenciário. Os modelos previdenciários baseiam-se na contribuição dos trabalhadores ativos, que por sua vez, financiam a aposentadoria dos inativos. Quando as taxas de natalidade são muito baixas, há o temor pelo colapso dos modelos de previdência. Como solução, vários países iniciaram polêmicas reformas que consistiram basicamente: na elevação da idade de aposentadoria; na contínua contribuição previdenciária para aqueles já aposentados; no estabelecimento de um teto salarial para o trabalhador recém-aposentado.

Obs.: consultar no Google: pirâmide etária do Haiti e pirâmide etária da Noruega.

Fonte: Currículo mínimo (Seeduc)



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

As teorias demográficas - 4º bimestre - aula nº 1

Aula nº 1 – 4º bimestre 2014

As teorias demográficas

As teorias demográficas surgiram a partir dos muitos questionamentos a respeito do comportamento reprodutivo da população mundial, que resultaram em projeções sobre a quantidade de pessoas a habitar o planeta no futuro.

A primeira discussão foi levantada pelo sacerdote anglicano Thomas Robert Malthus, em 1798, cujo trabalho alertou para as consequências do acelerado crescimento populacional e que este estaria diretamente relacionado com a pobreza vigente.

Os princípios fundamentais de sua teoria consistiam na hipótese de que a população cresceria em progressão geométrica, enquanto que a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética. Isso significa que a população tenderia a crescer mais rápido do que produção de alimentos.

Segundo Malthus, se o crescimento populacional não fosse controlado, o planeta seria assolado por sérias crises de fome e distúrbios sociais. A chave do problema estaria na constatação de que o grande número de filhos em famílias pobres seria o fator responsável pela miséria. A solução proposta seria a abstinência sexual dos desfavorecidos e a geração de filhos proporcionalmente à renda e à disponibilidade de terras, no caso da população mais abastada.

O efeito demográfico nos moldes propostos por Malthus, obviamente, não apresentou os resultados esperados. Além disso, as estatísticas não confirmaram suas previsões apocalípticas. Os progressos da agricultura científica e a possibilidade de importar de outros países trigo e carne, em grandes quantidades, melhoraram sensivelmente os níveis de abastecimento e alimentação.

A partir do pós-2ª Guerra Mundial, surge uma considerável variedade de debates acalorados sobre o que se entendia por desenvolvimento e os porquês para os diferentes níveis de desenvolvimento entre países. Houve novo alarmismo diante do acelerado crescimento populacional dos países ditos subdesenvolvidos. A hipótese de uma nova “ameaça” de explosão demográfica, a partir da década de 1950, “ressuscitou” o alerta malthusiano, então ajustado com novos argumentos e soluções.

Os neomalthusianos compartilham da visão malthusiana de que o crescimento populacional desordenado ampliaria a miséria. Na visão neomalthusiana, o grande número de filhos levaria a maiores gastos sociais dos governos, como a construção de escolas e hospitais. Isso atrapalharia o desenvolvimento econômico destes países, pois os recursos gastos nos setores sociais poderiam ser investidos em infraestruturas, como rodovias e portos, reforçando então a condição de subdesenvolvimento. Como solução, os neomalthusianos sugerem a implementação de políticas de controle da natalidade, forçadas ou não, por meio de programas de planejamento familiar e a difusão de métodos contraceptivos. Vários países subdesenvolvidos, como Índia, China e Brasil seguiram tais orientações neomalthusianas.

Além da dimensão desenvolvimentista da década de 1950, o ponto de vista neomaltusianismo também se entrelaçou aos discursos dos movimentos ambientalistas que eclodiram, nos anos 1970, nos países desenvolvidos. A ameaça das superpopulações, além de social, seria também ambiental, pois isso acarretaria o consumo excessivo de recursos diversos para além da capacidade do planeta se recuperar. Então, segundo os “ecomalthusianos”, seria necessário frear o crescimento populacional nos países mais pobres, pois seria impossível que todos os países do globo tivessem o mesmo padrão de consumo dos países ditos desenvolvidos.

Nesse contexto, acrescentamos uma contradição neomalthusiana: propõe-se controlar o número de nascimentos nos países mais pobres - africanos asiáticos e latino-americanos -, enquanto que nos países desenvolvidos – extremamente consumistas – há campanhas de incentivo ao aumento da natalidade, inclusive com subsídios financeiros de governos locais.

Questionando o neomalthusianismo, teóricos de alguns países subdesenvolvidos ficaram conhecidos como reformistas. Segundo esse grupo, o atraso econômico dos países subdesenvolvidos seria a causa de suas altas taxas de natalidade e não a consequência, como os neomalthusianos defendem.

Os reformistas alegam que as populações, quando bem servidas de oportunidades de qualificação e emprego, reduzem espontaneamente a quantidade de filhos, pois o crescimento profissional e a qualidade de vida passam a ser prioridades para o casal. Não seriam necessárias, portanto, as campanhas de controle da natalidade tão defendidas pelos neomalthusianos. Na verdade, a alta taxa de natalidade concentrada entre os mais pobres revela, então, a grave desigualdade no acesso aos meios de emancipação financeira e educacional.

Do ponto de vista reformista, a ausência de condições adequadas de saúde, saneamento e educação ampliam a pobreza. São necessárias, portanto, amplas reformas sociais de base voltadas para a redução das desigualdades socioespaciais.

Isso seria possível a partir da construção de importantes frentes de mobilização social com o objetivo de ampliar a representação popular nas bases governamentais.

Fonte: Currículo mínimo (Seeduc)


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Estrutura Fundiária brasileira e a luta pela posse da terra pelos movimentos sociais - 3º bimestre – aula nº 3

Estrutura Fundiária brasileira e a luta pela posse da terra pelos movimentos sociais: 3º bimestre – aula nº 3

Vejamos agora a estrutura fundiária brasileira e sua relação com os movimentos sociais.

Quando se estuda historicamente a estrutura fundiária no Brasil, ou seja, a forma de distribuição e acesso a terra para população, verifica-se que desde o período colonial essa distribuição foi desigual. Primeiro foram as capitanias hereditárias e seus donatários, depois foram as sesmarias. Estas formas deram origem de grande parte dos latifúndios do país. 

Mesmo com a independência do Brasil e, depois, com o fim da escravidão, ainda permaneceu a concentração de terra principalmente devido à lei de terras de 1850, onde o acesso a terra passou a ser possível por meio da compra com pagamento em dinheiro. Isso limitava, ou mesmo praticamente impedia o acesso a terra para os trabalhadores escravos que conquistavam a liberdade.

Perceba que desta forma as marcas que caracterizam a concentração fundiária no Brasil têm sua origem na própria história do país. Um outro problema brasileiro foi à existência da “grilagem” ato em que é forjada uma documentação que aparenta a posse da terra, a um grupo ou individuo, a gerações. Como nem sempre é possível provar essa ligação nos cartórios, criam-se verdadeiros latifúndios em áreas que normalmente seriam do Estado.

Essas práticas históricas acabam explicando também a fome e a subnutrição no Brasil devido à péssima distribuição das propriedades agrárias: enquanto um pequeno número de grandes proprietários concentra a maioria das terras férteis, um número imenso de pequenos proprietários divide entre si uma área muitíssimo menor e em muitos casos com pouca fertilidade.

Cerca de 53% dos imóveis rurais do país correspondem aos minifúndios ou pequenas propriedades. Embora numerosíssimos, os minifúndios ocupam somente cerca de 2,6% da área total das propriedades do país. Sem incentivos do governo e desenvolvendo uma agricultura tradicional, os pequenos proprietários, às vezes, não conseguem retirar do seu trabalho nem mesmo o mínimo necessário à sobrevivência de sua família. Por outro lado, do total dos imóveis rurais brasileiros, 2,4% correspondem aos latifúndios, que ocupam 78% do total da área das propriedades rurais. Em muitos casos, essas grandes propriedades não são utilizadas para criação ou cultivo.

Resumindo, o problema da estrutura fundiária do Brasil é a excessiva concentração da terra em mãos de uma minoria de proprietários ou empresas. O que agrava o destino da produção (gêneros cultivados) dessas propriedades é a exportação.
Portanto o preço da terra, mesmo desocupada, no Brasil só tende a aumentar, e é isso que interessa aos proprietários capitalistas ligados a empresas multinacionais que já se apropriaram de cerca de 35 milhões de hectares de terra brasileiras.

Enquanto existem algumas propriedades brasileiras equivalentes à dimensão territorial de um país europeu como a Bélgica, em contrapartida, há no país milhões de famílias camponesas sem terras para cultivar. De um lado, a opulência e o desperdício de alguns; de outro, a fome e a miséria de muitos. Tudo isso acaba gerando conflitos fundiários no meio rural do Brasil que se multiplicaram nas últimas décadas, provocando inúmeras mortes todos os anos. Essa realidade leva à conclusão de que uma das mais urgentes necessidades do meio rural brasileiro é a reforma agrária, ou seja, a redistribuição de terras agrícolas. Para isso, será preciso desapropriar grandes propriedades pouco ou nada produtivas e distribuir lotes de terra a famílias camponesas.

Perceba que já houve vários projetos de reforma agrária no Brasil, mas todos com baixíssimos resultados, pois os grandes fazendeiros sempre tiveram enorme influência sobre a política do país através dos políticos eleitos com seu poder econômico e sua influência local. O que impede mudanças profundas na distribuição das propriedades rurais brasileiras.

No Brasil, um dos movimentos mais marcantes existente de luta pela posse da terra é o MST – Movimento dos trabalhadores rurais sem terra – que tem sua origem há 29 anos, em Cascavel (PR), onde centenas de trabalhadores rurais decidiram fundar um movimento social camponês, autônomo, que lutasse pela terra, pela Reforma Agrária e pelas transformações sociais necessárias para o nosso país. Eram posseiros, atingidos por barragens, migrantes, meeiros, parceiros, pequenos agricultores...

Trabalhadores rurais sem terras, que estavam desprovidos do seu direito de produzir alimentos. Expulsos por um projeto autoritário para o campo brasileiro, capitaneado pela ditadura militar, que então cerceava direitos e liberdades de toda a sociedade.
Um projeto que anunciava a “modernização” do campo quando, na verdade, estimulava o uso massivo de agrotóxicos e a mecanização, baseados em fartos (e exclusivos ao latifúndio) créditos rurais.


Fonte: Currículo mínimo (Seeduc)

domingo, 10 de agosto de 2014

A fome no mundo e sua relação com o processo de produção mundial de alimentos - 3º bimestre – aula nº 2

A fome no mundo e sua relação com o processo de produção mundial de alimentos: 

A fome é um dos problemas mais sérios no mundo hoje, principalmente nos países subdesenvolvidos de fraca ou nenhuma industrialização. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) calcula que quase um bilhão de pessoas se encontram em estado de subnutrição, lembrando que a população do Brasil segundo o IBGE é de 190 milhões. Isso significa que essas pessoas ingerem menos de 2.200 calorias por dia que é o mínimo necessário para termos saúde. A maioria das pessoas subnutridas encontra-se no continente africano, em primeiro lugar, e também em partes da Ásia e da América Latina.

Isso explica o fato, do total de crianças que morrem por inanição no mundo, 95% são dos países subdesenvolvidos.

Já nos países desenvolvidos de economia fortemente industrializada, praticamente não existe mais fome ou subnutrição, isso não significa que não haja pobreza ou desigualdade. Esses países consomem mais de 60% da produção mundial de alimentos tendo apenas 15% da população global.

Assim caro aluno, são os países subdesenvolvidos que geralmente apresentam problemas sociais, fome e subnutrição. Mas, como isso pode acontecer já que a maioria desses países exportam gêneros alimentícios?

Segundo GARUTI há 6 motivos para isso:

1. As monoculturas: o produto nacional bruto (PNB) de vários países depende, em muitos casos, de uma cultura só, como acontecia, alguns anos atrás, com o Brasil, cujo único produto de exportação era o café. Sem produções alternativas, a economia desses países depende muito do preço do produto, que é fixado em outros lugares, e das condições climáticas para garantir uma boa colheita. Com isso, as melhores terras são para esses produtos deixando as terras menos férteis, para produção de alimento, que acaba não sendo suficiente para toda a população.

2. Diferentes condições de troca entre os vários países: alguns países, ex-colônias, estão precisando cada vez mais de produtos manufaturados e de alta tecnologia, que eles não produzem e que o preço é fixado pelos países que exportam. Os preços das matérias-primas, quase sempre o único produto de exportação dos países pobres, são fixados, de novo, pelos países que importam. Gerando um custo muito maior com a importação do que o lucro com a exportação.

3. Multinacionais: são organizações em condições de realizar operações de caráter global, fugindo assim ao controle dos Estados nacionais ou de organizações internacionais. Querem conquistar mercados, investindo capitais privados e deslocando a produção onde os custos de trabalho, energia e matéria-prima são mais baixos e os direitos dos trabalhadores limitados. Controlam 40% do comércio mundial e até 90% do comércio mundial dos bens de primeira necessidade.

4. Dívida externa: conforme a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a dívida está paralisando a possibilidade de países menos avançados de importar os alimentos dos quais precisam ou de dar à própria produção agrícola o necessário desenvolvimento. A dívida é contraída com os bancos particulares e com Institutos internacionais como o Fundo Monetário e o Banco Mundial. Para poder pagar os juros, tenta-se incrementar as exportações. Em certos países, 40% do que se arrecada com as exportações são gastos somente para pagar os juros da dívida externa. A dívida, infelizmente, continua inalterada ou aumenta.

5. Conflitos armados: o dinheiro necessário para providenciar alimento, água, educação, saúde e habitação de maneira suficiente para todos, durante um ano, corresponde a quanto o mundo inteiro gasta em menos de um mês na compra de armas. Além disso, os conflitos armados presentes em muitos países em desenvolvimento causam graves perdas e destruições em seu sistema produtivo primário.

6. Desigualdades sociais: a luta contra a fome é, em primeiro lugar, luta contra a fome pela justiça social. As elites que estão no governo, controlando o acesso aos alimentos, mantêm e consolidam o próprio poder. Paradoxalmente, os que produzem alimentos são os primeiros a sofrer por sua falta. Na maioria dos países, é muito mais fácil encontrar pessoas que passam fome em contextos rurais do que em contextos urbanos.
Preste atenção, no território brasileiro não apresenta áreas que impedem a prática da agropecuária. Até no sertão nordestino, de clima semiárido, cultiva-se algodão arbóreo e cria-se gado desde o período colonial. Desde que irrigado, o sertão nordestino poderia ser um grande celeiro de bons produtos agrícolas para o consumo interno e para exportação. Porém, apenas cerca de 28% da superfície do território brasileiro é ocupada por atividades agropecuárias.

Caro aluno, as pequenas propriedades rurais cultivadas com o trabalho familiar, tem importância fundamental no Brasil. São essas propriedades que garantem o fornecimento de gêneros alimentícios aos grandes centros urbanos do país.


Fonte: Currículo mínimo (Seeduc)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O processo de modernização das atividades agropecuárias no mundo e no território brasileiro - 3º bimestre - aula nº 1

O processo de modernização das atividades agropecuárias no mundo e no território brasileiro:

Iniciamos essa aula com o estudo da agropecuária moderna, tanto mundial quanto brasileira, devendo ser compreendido através dos processos de desenvolvimento do modo capitalista de produção no território.  Tendo por ideia que esse desenvolvimento é contraditório e combinado. Isto significa dizer que, reproduz-se no espaço relações especificamente capitalistas (assalariado) e ao mesmo tempo em que ainda mantém as relações camponesas de produção (trabalho familiar).

Veja que o meio rural com a agricultura, a pecuária e o extrativismo sofreram essas transformações a partir da Revolução Industrial em que o campo se aproximou da atividade industrial de produção em massa.

O extrativismo tradicional feito a partir da força humana está desaparecendo, até mesmo em países mais pobres, seja na substituição do corte de árvores pelo plantio ou pela introdução de máquinas pesadas na mineração ou as pequenas embarcações pesqueiras por navios pesqueiros com alta tecnologia.

Perceba que embora venha ocorrendo uma efetiva industrialização das atividades primárias (agricultura, pecuária e extrativismo), este ainda é o setor com maior relação de dependência dos elementos da natureza (solo, chuva, sol, etc.). Mas há países que não dispõem de todos os elementos naturais para produção de gêneros alimentícios ou matérias-primas para suas indústrias, com isso eles criam meios artificiais como estufas, aterros, irrigação entre outros para garantir seu desenvolvimento.

Temos que ter em mente que determinadas atividades agropecuária desenvolvem-se próximo às grandes cidades (metrópoles) ou mesmo no seu interior, pois esses gêneros são perecíveis, destinam-se ao consumo imediato e seu custo de transporte seria muito alto se fosse de outras regiões.

De qualquer forma, onde quer que se desenvolvam as atividades rurais hoje não dependem unicamente da natureza.

Dependem também e cada vez mais da indústria com seus equipamentos e insumos agrícolas.

Preste atenção, atualmente a indústria química é a que mais controla as atividades agropecuárias, fabricando fertilizantes e agrotóxicos, vacinas e outros produtos de uso animal.

Esses produtos químicos utilizados pela agricultura moderna no combate a pragas e doenças de animais e vegetais, que prejudicam as colheitas e a produção animal são conhecidos como agrotóxicos, Eles podem ser extremamente prejudiciais, pois destroem as matérias orgânicas e os micro-organismos do solo, levando a um uso cada vez maior de produtos químicos para correção dos mesmos, podendo fazer mal ao meio ambiente e à saúde de todos que consomem os alimentos.

Os trabalhadores rurais, que normalmente aplicam essas substâncias sem proteção especial, sofrem intoxicações graves. Muitas pessoas já morreram intoxicadas por agrotóxicos no mundo inteiro. Por tudo isso, o termo agrotóxico é mais apropriado do que defensivo agrícola, empregado pelos fabricantes numa tentativa de encobrir os males que esses produtos podem causar.

Esse processo deve ser entendido também no interior da economia capitalista atualmente internacionalizada, que produz e se reproduz em diferentes países, desenvolvidos ou não, criando processos e relações de interdependência entre nações e empresas. A compreensão desses processos é fundamental para o entendimento da agricultura moderna, pois eles provocam o movimento de concentração da população nos países.


No mundo e no Brasil esse movimento migratório provocado pela modernização do campo vem direcionando as populações para as grandes metrópoles ou para as cidades de uma forma geral. No campo, o desenvolvimento capitalista vem se apropriando das terras provocando uma intensificação na concentração fundiária. Como consequência disso, temos uma grande massa empobrecida de sem-terra e renda, causando uma ampliação do número de pessoas que passam fome.

Fonte: Currículo minimo (Seeduc)

Os espaços urbanos e sua relação com a cidadania e segregação espacial - 2º bimestre - aula nº 3

Os espaços urbanos e sua relação com a cidadania e segregação espacial:

Após o conhecimento sobre os espaços urbanos e suas relações de hierarquização, agora vamos notar que eles são concentradores de riquezas e pobrezas.

Com isso, vemos a cidade dividida entre poder econômico e sua população, onde investimentos públicos tornando-se prioridade nas áreas mais ricas deixando a margem do desenvolvimento boa parte das pessoas.

Então quem são os agentes que organizam os espaços urbanos?

Temos que ter em mente, que os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários e os promotores imobiliários, tem em comum a organização do espaço urbano a partir da reprodução das relações capitalistas através da posse e controle do uso da terra urbana onde o Estado entra somente como apaziguador ou minimizador dos conflitos de classe.

Nas cidades, os grupos sociais (população), na verdade não são modeladores do espaço urbano, mesmo os envolvidos com a “autoconstrução”, eles são manobrados pelo mercado.

As favelas apresentam uma realidade diferente dos demais espaços da cidade. É na favela, seja ocupação de terrenos públicos ou privados, onde os grupos sociais excluídos tornam-se, efetivamente, agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço, na maioria dos casos independentemente dos outros agentes. Onde a produção do espaço é uma forma de resistência, estratégia e de sobrevivência.

Estamos refletindo sobre a cidade em que a cidadania não é exercida em sua plenitude, deixando ao quase exclusivo jogo do mercado. O espaço vivido consagra desigualdades e injustiças e termina por ser, em sua maior parte, um “espaço sem cidadãos”. Onde os fixos sociais (estruturas e infraestrutura construídas) não são usufruídas, não há um direito de morar, pois ele está vinculado ao poder aquisitivo, onde não há um direito ao entorno, pois as paisagens mudam fora do controle da população, as áreas de lazer os espaço públicos se tornam privados à medida que não há como usufruir deles sem que haja gastos do deslocamento ou alimentação, até o direito à privacidade fica comprometido com prédios que se debruçam uns sobres os outros nas cidades.
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O resultado de todos esses problemas é um espaço empobrecido materialmente, socialmente, politicamente, culturalmente e moralmente. Diante de tantos abusos, o cidadão se torna impotente.

Tudo isso acaba gerando uma segregação entre as classes sociais ou uma segregação residencial na cidade, com uma produção dominante e outra subordinada do espaço.

Assim, a produção do espaço urbano materializa a desigualdade social começando com a questão da moradia e acabando refletido em um processo de segregação e discriminação no espaço urbano acrescido de fatores econômicos, sociais e culturais em que os principais seriam: a renda familiar, as políticas educacionais, as políticas habitacionais a especulação imobiliária, entre outros.

Fonte: Currículo minimo (Seeduc)