Estrutura Fundiária brasileira
e a luta pela posse da terra pelos movimentos sociais: 3º bimestre – aula nº 3
Vejamos agora a estrutura
fundiária brasileira e sua relação com os movimentos sociais.
Quando se estuda
historicamente a estrutura fundiária no Brasil, ou seja, a forma de
distribuição e acesso a terra para população, verifica-se que desde o período colonial
essa distribuição foi desigual. Primeiro foram as capitanias hereditárias e
seus donatários, depois foram as sesmarias. Estas formas deram origem de grande
parte dos latifúndios do país.
Mesmo com a independência do Brasil e, depois,
com o fim da escravidão, ainda permaneceu a concentração de terra principalmente
devido à lei de terras de 1850, onde o acesso a terra passou a ser possível por
meio da compra com pagamento em dinheiro. Isso limitava, ou mesmo praticamente impedia
o acesso a terra para os trabalhadores escravos que conquistavam a liberdade.
Perceba que desta forma as
marcas que caracterizam a concentração fundiária no Brasil têm sua origem na
própria história do país. Um outro problema brasileiro foi à existência da
“grilagem” ato em que é forjada uma documentação que aparenta a posse da terra,
a um grupo ou individuo, a gerações. Como nem sempre é possível provar essa
ligação nos cartórios, criam-se verdadeiros latifúndios em áreas que normalmente
seriam do Estado.
Essas práticas históricas
acabam explicando também a fome e a subnutrição no Brasil devido à péssima
distribuição das propriedades agrárias: enquanto um pequeno número de grandes
proprietários concentra a maioria das terras férteis, um número imenso de
pequenos proprietários divide entre si uma área muitíssimo menor e em muitos
casos com pouca fertilidade.
Cerca de 53% dos imóveis
rurais do país correspondem aos minifúndios ou pequenas propriedades. Embora
numerosíssimos, os minifúndios ocupam somente cerca de 2,6% da área total das
propriedades do país. Sem incentivos do governo e desenvolvendo uma agricultura
tradicional, os pequenos proprietários, às vezes, não conseguem retirar do seu
trabalho nem mesmo o mínimo necessário à sobrevivência de sua família. Por
outro lado, do total dos imóveis rurais brasileiros, 2,4% correspondem aos
latifúndios, que ocupam 78% do total da área das propriedades rurais. Em muitos
casos, essas grandes propriedades não são utilizadas para criação ou cultivo.
Resumindo, o problema da
estrutura fundiária do Brasil é a excessiva concentração da terra em mãos de
uma minoria de proprietários ou empresas. O que agrava o destino da produção
(gêneros cultivados) dessas propriedades é a exportação.
Portanto o preço da terra,
mesmo desocupada, no Brasil só tende a aumentar, e é isso que interessa aos
proprietários capitalistas ligados a empresas multinacionais que já se
apropriaram de cerca de 35 milhões de hectares de terra brasileiras.
Enquanto existem algumas
propriedades brasileiras equivalentes à dimensão territorial de um país europeu
como a Bélgica, em contrapartida, há no país milhões de famílias camponesas sem
terras para cultivar. De um lado, a opulência e o desperdício de alguns; de
outro, a fome e a miséria de muitos. Tudo isso acaba gerando conflitos
fundiários no meio rural do Brasil que se multiplicaram nas últimas décadas,
provocando inúmeras mortes todos os anos. Essa realidade leva à conclusão de
que uma das mais urgentes necessidades do meio rural brasileiro é a reforma agrária,
ou seja, a redistribuição de terras agrícolas. Para isso, será preciso desapropriar
grandes propriedades pouco ou nada produtivas e distribuir lotes de terra a famílias
camponesas.
Perceba que já houve vários
projetos de reforma agrária no Brasil, mas todos com baixíssimos resultados,
pois os grandes fazendeiros sempre tiveram enorme influência sobre a política
do país através dos políticos eleitos com seu poder econômico e sua influência
local. O que impede mudanças profundas na distribuição das propriedades rurais
brasileiras.
No Brasil, um dos movimentos
mais marcantes existente de luta pela posse da terra é o MST – Movimento dos
trabalhadores rurais sem terra – que tem sua origem há 29 anos, em Cascavel
(PR), onde centenas de trabalhadores rurais decidiram fundar um movimento
social camponês, autônomo, que lutasse pela terra, pela Reforma Agrária e pelas
transformações sociais necessárias para o nosso país. Eram posseiros, atingidos
por barragens, migrantes, meeiros, parceiros, pequenos agricultores...
Trabalhadores rurais sem
terras, que estavam desprovidos do seu direito de produzir alimentos. Expulsos
por um projeto autoritário para o campo brasileiro, capitaneado pela ditadura
militar, que então cerceava direitos e liberdades de toda a sociedade.
Um projeto que anunciava a
“modernização” do campo quando, na verdade, estimulava o uso massivo de
agrotóxicos e a mecanização, baseados em fartos (e exclusivos ao latifúndio)
créditos rurais.
Fonte: Currículo mínimo
(Seeduc)
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