Aula nº 3 – 4º bimestre 2014
A população em movimento
Toda migração, ou
deslocamento humano, relaciona-se às injustas desigualdades sócio espaciais
entre territórios desenvolvidos e subdesenvolvidos, que acabam por originar as
chamadas células de atração e repulsão populacional. As motivações de saída,
muitas vezes, são as conhecidas necessidades de um dado grupo, como a busca por
emprego, qualificação, melhor qualidade de vida, dentre outros. Há também
motivações por distúrbios sociais ou causas naturais, como guerras, perseguições
religiosas, epidemias, fome, furacões, terremotos ou tsunamis.
Nesse contexto, podemos
classificar as migrações em função de três critérios: o espaço de deslocamento;
o tempo de permanência do migrante; o contexto no qual a migração foi motivada.
Quando consideramos o espaço
de deslocamento, temos:
Migração internacional
Ocorre quando há
deslocamentos de um país para outro. O período situado entre os séculos XVIII e
o início do século XX, no contexto de eclosão da primeira e segunda revolução
industrial, foi marcado por importantes movimentos migratórios, principalmente,
de saída de europeus rumo a diferentes partes do mundo, como consequência das
más condições de vida e do excedente demográfico existentes nesse continente.
Nesse período, iniciou-se a independência dos países americanos e o neocolonialismo
imperialista em direção à África, Ásia e Oceania – eventos esses que potencializaram
a migração europeia.
Da segunda metade do século
XX para cá, percebemos uma inversão da condição anterior e acrescentamos
algumas novas questões. Hoje, são os países centrais e/ou desenvolvidos com
baixas taxas de natalidade e melhor estrutura econômica os principais polos de
atração migratória, como os países da União Europeia.
A exceção vale para os
Estados Unidos e o Japão. O primeiro sempre atraiu migrantes. Mesmo derrotado
no pós-2ª Guerra Mundial (1945), o segundo passou por um surpreendente e
elogiável crescimento econômico durante boa parte do século XX, tornando-se uma
zona de atração migratória e um país central e desenvolvido, de fato. Austrália,
Nova Zelândia e os países do Golfo Pérsico estáveis e ricos em petróleo
apresentam também expressivas correntes migratórias. Brasil e África do Sul,
mesmo na condição de países em desenvolvimento, são potências regionais que
exercem atração no entorno de suas regiões.
Já as zonas de repulsão da
atualidade predominam em países periféricos e semiperiféricos com situação
econômica pouco diversificada e/ou com altas taxas de natalidade, tal como ocorre
em muitos países da América Latina, África, Ásia e Oceania.
Tendo como alvo os países
centrais e/ou desenvolvidos, levas e levas de pessoas se aventuram na busca por
melhores condições de vida. Essa situação resulta em algumas consequências nos
países centrais, como: o acirramento da competição entre a mão de obra nacional
e dos imigrantes; mudanças na legislação sobre imigrantes; incidência de
movimentos políticos de caráter racista e xenófobo. Então, cientes dessas
condições adversas, muitos imigrantes mantém-se segregados e organizados em
bairros onde há maior concentração de indivíduos com a mesma nacionalidade.
No entanto, um tipo de
migração internacional irrestrita para os países centrais é a chamada “Brain
Drain”, “migração de cérebros”, que consiste na atração de mão de obra
qualificada para empresas de alta tecnologia. Nesse caso, ganha o país receptor
por ampliar sua propriedade intelectual e registrar novas patentes. Perde a nação
repulsora, pois mantém-se carente de mão de obra qualificada e dependente de
tecnologias muitas das vezes compradas por empresas que possuem o direito de uso
de uma tecnologia criada por um possível cidadão que migrou.
Migração interna
Ocorre dentro de um mesmo
país, entre suas regiões (inter-regional) ou dentro das mesmas
(intrarregional). Os principais tipos de migrações internas são os seguintes:
Êxodo rural ou migração
rural-urbana - fenômeno migratório que consiste no deslocamento de populações
rurais em direção às cidades. Isso é motivado pelas péssimas condições de vida,
concentração fundiária, pela mecanização do setor agropecuário e a consequente
liberação de mão de obra no meio rural.
Migração rural-rural -
quando populações rurais são destituídas de seus meios de sobrevivência e
passam a migrar em direção a novas fronteiras agrícolas.
Migração urbano-rural -
quando há transferência de populações urbanas para o espaço rural. O stress da
vida urbana em grandes cidades pode favorecer a migração de pessoas para o meio
rural, fenômeno chamado contra urbanização.
Nesse tipo, incluímos também
a migração de retorno de trabalhadores hoje urbanos em direção às suas regiões
de origem.
Migração urbano-urbano -
deslocamento que consiste na transferência de populações de uma cidade para
outra. Esse é um fenômeno muito comum nos dias atuais. Um exemplo disso é o
crescimento econômico de cidades médias, que passaram a atrair populações
também dos grandes centros urbanos.
Migração pendular - tipo de
migração característica de grandes cidades e regiões metropolitanas, nas quais
centenas ou milhares de trabalhadores saem todas as manhãs de suas casas (em
determinada cidade) em direção ao trabalho (que pode estar localizado em outro
município), retornando ao final do dia.
Quanto ao tempo de
permanência do migrante, podemos citar dois tipos:
Migração definitiva -
situação na qual o migrante passa a se fixar definitivamente na região de
interesse. Exemplo: a chegada de europeus nas regiões Sul e Sudeste do Brasil
no século XIX.
Migração temporária -
situação na qual o migrante se estabelece temporariamente em uma dada região,
podendo voltar para o local de origem ou se deslocar para outra região com nova
oferta de trabalho temporário. Exemplo: trabalhadores ligados à colheita de
cana-de-açúcar e laranja no interior do estado de São Paulo.
Outro exemplo que merece uma
nota é o deslocamento sazonal de pastores e rebanhos para locais que oferecem
melhores condições durante uma parte do ano, fenômeno conhecido como
transumância.
Quanto ao contexto ou forma
em que a migração foi motivada, destacam-se dois grupos:
Migração espontânea - quando
indivíduos migram espontaneamente para outra região, seja por motivo econômico,
político ou cultural. Exemplo: a ida de brasileiros para o Paraguai em busca de
terras baratas para o plantio de soja em moldes agroindustriais, os chamados
brasiguaios.
Migração forçada - quando
indivíduos são obrigados a migrar de seu lugar de origem em função de
catástrofes naturais ou perseguições políticas, raciais ou religiosas. Exemplo:
os refugiados de guerra sírios distribuídos nos territórios da Turquia e
Jordânia.
Fonte: Currículo mínimo
(Seeduc)