quarta-feira, 17 de setembro de 2014

As teorias demográficas - 4º bimestre - aula nº 1

Aula nº 1 – 4º bimestre 2014

As teorias demográficas

As teorias demográficas surgiram a partir dos muitos questionamentos a respeito do comportamento reprodutivo da população mundial, que resultaram em projeções sobre a quantidade de pessoas a habitar o planeta no futuro.

A primeira discussão foi levantada pelo sacerdote anglicano Thomas Robert Malthus, em 1798, cujo trabalho alertou para as consequências do acelerado crescimento populacional e que este estaria diretamente relacionado com a pobreza vigente.

Os princípios fundamentais de sua teoria consistiam na hipótese de que a população cresceria em progressão geométrica, enquanto que a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética. Isso significa que a população tenderia a crescer mais rápido do que produção de alimentos.

Segundo Malthus, se o crescimento populacional não fosse controlado, o planeta seria assolado por sérias crises de fome e distúrbios sociais. A chave do problema estaria na constatação de que o grande número de filhos em famílias pobres seria o fator responsável pela miséria. A solução proposta seria a abstinência sexual dos desfavorecidos e a geração de filhos proporcionalmente à renda e à disponibilidade de terras, no caso da população mais abastada.

O efeito demográfico nos moldes propostos por Malthus, obviamente, não apresentou os resultados esperados. Além disso, as estatísticas não confirmaram suas previsões apocalípticas. Os progressos da agricultura científica e a possibilidade de importar de outros países trigo e carne, em grandes quantidades, melhoraram sensivelmente os níveis de abastecimento e alimentação.

A partir do pós-2ª Guerra Mundial, surge uma considerável variedade de debates acalorados sobre o que se entendia por desenvolvimento e os porquês para os diferentes níveis de desenvolvimento entre países. Houve novo alarmismo diante do acelerado crescimento populacional dos países ditos subdesenvolvidos. A hipótese de uma nova “ameaça” de explosão demográfica, a partir da década de 1950, “ressuscitou” o alerta malthusiano, então ajustado com novos argumentos e soluções.

Os neomalthusianos compartilham da visão malthusiana de que o crescimento populacional desordenado ampliaria a miséria. Na visão neomalthusiana, o grande número de filhos levaria a maiores gastos sociais dos governos, como a construção de escolas e hospitais. Isso atrapalharia o desenvolvimento econômico destes países, pois os recursos gastos nos setores sociais poderiam ser investidos em infraestruturas, como rodovias e portos, reforçando então a condição de subdesenvolvimento. Como solução, os neomalthusianos sugerem a implementação de políticas de controle da natalidade, forçadas ou não, por meio de programas de planejamento familiar e a difusão de métodos contraceptivos. Vários países subdesenvolvidos, como Índia, China e Brasil seguiram tais orientações neomalthusianas.

Além da dimensão desenvolvimentista da década de 1950, o ponto de vista neomaltusianismo também se entrelaçou aos discursos dos movimentos ambientalistas que eclodiram, nos anos 1970, nos países desenvolvidos. A ameaça das superpopulações, além de social, seria também ambiental, pois isso acarretaria o consumo excessivo de recursos diversos para além da capacidade do planeta se recuperar. Então, segundo os “ecomalthusianos”, seria necessário frear o crescimento populacional nos países mais pobres, pois seria impossível que todos os países do globo tivessem o mesmo padrão de consumo dos países ditos desenvolvidos.

Nesse contexto, acrescentamos uma contradição neomalthusiana: propõe-se controlar o número de nascimentos nos países mais pobres - africanos asiáticos e latino-americanos -, enquanto que nos países desenvolvidos – extremamente consumistas – há campanhas de incentivo ao aumento da natalidade, inclusive com subsídios financeiros de governos locais.

Questionando o neomalthusianismo, teóricos de alguns países subdesenvolvidos ficaram conhecidos como reformistas. Segundo esse grupo, o atraso econômico dos países subdesenvolvidos seria a causa de suas altas taxas de natalidade e não a consequência, como os neomalthusianos defendem.

Os reformistas alegam que as populações, quando bem servidas de oportunidades de qualificação e emprego, reduzem espontaneamente a quantidade de filhos, pois o crescimento profissional e a qualidade de vida passam a ser prioridades para o casal. Não seriam necessárias, portanto, as campanhas de controle da natalidade tão defendidas pelos neomalthusianos. Na verdade, a alta taxa de natalidade concentrada entre os mais pobres revela, então, a grave desigualdade no acesso aos meios de emancipação financeira e educacional.

Do ponto de vista reformista, a ausência de condições adequadas de saúde, saneamento e educação ampliam a pobreza. São necessárias, portanto, amplas reformas sociais de base voltadas para a redução das desigualdades socioespaciais.

Isso seria possível a partir da construção de importantes frentes de mobilização social com o objetivo de ampliar a representação popular nas bases governamentais.

Fonte: Currículo mínimo (Seeduc)